Cuidado com a Falácia da "Inteligência Artificial Mágica" e a "Nova Advocacia com IA"

Antes de adotar a próxima ferramenta que promete revolucionar seu escritório, reflita: é inovação genuína ou apenas marketing vazio?

Precisamos ter uma conversa honesta sobre a atual febre da “Inteligência Artificial” no universo jurídico. A cada dia, surge uma nova plataforma, um novo app ou software prometendo revolucionar nossa prática com o poder da IA. Mas, ao olharmos sob o capô, o que realmente encontramos?

Estamos testemunhando uma onda de AI-washing: a prática de rotular como “Inteligência Artificial” o que, muitas vezes, não passa de uma automação simples ou um comando que já existe há anos.

Pensem comigo: se o sistema PJe fosse criado hoje, a função de protocolar uma petição e acompanhar o andamento processual seria, sem dúvida, vendida como uma “solução de IA para gestão de processos”. No entanto, sabemos que se trata de uma automação básica e essencial.

O paradoxo é que já convivemos com ferramentas de produtividade muito mais poderosas, que nunca precisaram desse rótulo para provar seu valor. O Excel, com suas fórmulas complexas e tabelas dinâmicas, é um gigante da análise de dados. O Word, nosso companheiro desde o primeiro dia de estágio, organiza nossas teses mais complexas. Sites como o “Cálculo Exato” entregam resultados básicos para um usuário comum que quer saber sobre rescisões trabalhistas há anos, com uma interface simples e direta.

Onde está o verdadeiro perigo?

A questão se aprofunda quando a promessa da IA não é apenas de eficiência, mas de substituição do raciocínio. A busca incessante por “terceirizar o trabalho” intelectual está levando a erros graves.

O exemplo mais alarmante – e cada vez mais comum – são os casos de advogados que, confiando cegamente na resposta de um chatbot, incluem em suas peças ementas de jurisprudência que simplesmente não existem.

São decisões “alucinadas” pela IA, que maculam a peça, a credibilidade do profissional (e da classe) e configuram uma perigosa falha ética.

A verdadeira inteligência na advocacia não é a artificial, mas a assistida.

A tecnologia é e sempre será nossa maior aliada, mas como uma ferramenta que potencializa nossa capacidade analítica, e não como um substituto para nossa diligência e responsabilidade.

O filtro crítico, a validação da informação e o raciocínio jurídico são – e devem continuar sendo – intransferivelmente nossos.

Chega de promessas vazias e ferramentas requentadas com um novo selo. Precisamos de inovação real, que respeite nossa inteligência e a seriedade da nossa profissão.

E você, colega? Já se deparou com uma “IA” que não passava de marketing? Qual sua opinião sobre os riscos e benefícios dessa nova era?

3 curtidas